
Maíra Gerstner e Pedro Brício conduzem o público na montagem de “Inglaterra”, dirigida por Bel Garcia. (Foto: Dalton Valério)
A exposição SP_Rock_70_Imagem, em cartaz no Sesc Belenzinho desde 19 de janeiro, traz um panorama do rock feito em São Paulo nos anos 1970, com fotos raras ou inéditas de artistas que ocupavam a cena musical daquele prolífico período, no qual não faltava criatividade mas sobrava repressão. Além das imagens, há um painel de capas de LPs feitas por talentos que despontavam na época, a exemplo de Waltercio Caldas, Miguel Rio Branco e Carlos Vergara e dos fotógrafos Carlos Hyra e Hermano Penna.
Somos guiados, então, pelos corredores tomados pelas imagens dos icônicos grupos de rock: Mutantes, Made in Brazil, Joelho de Porco, Arnaldo Baptista & Patrulha do Espaço, entre outros. Mas, onde estão retratados os músicos, nossos guias sugerem enxergar outras figuras: eles mesmos, o namorado que vive em Londres, um alguém que eles conhecem. Sim, estamos no primeiro andar do Sesc Belenzinho, acompanhamos aqueles dois personagens, mas não sabemos se escutamos duas versões de uma mesma voz ou duas narrativas diferentes. Tampouco vemos – no que somos sugeridos a ver – os roqueiros que fizeram história em São Paulo; atrás do vidro que não podemos tocar e que protege as fotos, existem fragmentos de uma história que envolve amor, negócios e dor. Ah, eles têm um Willen de Kooning na parede. Um deles sofre do coração. O outro viaja o mundo fechando transações no mercado de arte. Como é sentir a morte tão próxima? Há uma óbvia dissonância entre o real e o imaginado. Por isso, nossa inquietação: onde realmente nos encontramos? Quem somos nós aqui?
Viramos cúmplices daquela história que, a princípio, soa meio obscura. Mas essa é a proposta da inusitada peça escrita pelo ator e dramaturgo inglês Tim Crouch. Autor também de My Arm e An Oak Tree, Crouch induz o espectador a não ser mero espectador, mas a tomar parte no drama, imaginando o cenário, as entrelinhas e o fora de cena. Ao abolir as referências literais do espaço em que o espetáculo se desenrola e deslocar os sentidos primários, Crouch estabelece um pacto com o público: o teatro pressupõe adesão; vocês acreditam no que está acontecendo aqui?
Um homem passou por um transplante de coração. Viaja milhares de quilômetros para se encontrar com a viúva do doador e dar-lhe uma valiosa obra de arte como agradecimento. O processo envolveu grande soma de dinheiro: há suspeita de tráfico internacional de órgãos. Tudo parece ter um preço: um coração, um quadro ou mesmo uma vida. Ora, e quando esse custo é forjado às custas de alguém?
Embora dinâmica, a peça não deixa de ser incômoda. Ao sair, nos deparamos com os rostos cheios de picardia de Rita Lee, de Odair Cabeça de Poeta ou dos moços da banda Casas das Máquinas, que nos observam de longe, lá de 1970. Alguém pode lamentar que se foi o tempo em que era possível ser ingênuo. Pois é, o texto de Crouch mostra que não dá mais.
A montagem de Inglaterra – versão brasileira tem direção de Bel Garcia e interpretação dos carismáticos Maíra Gerstner e Pedro Brício. Vem do Rio de Janeiro, onde foi apresentada no Centro Cultural Justiça Federal, durante a exposição Olhares Sobrepostos. O texto foi encenado pela primeira vez em 2007, na Fruitmarket Gallery em Edimburgo, Escócia, que abrigava na época a exposição do artista Alex Hartley. Haverá apresentações também na segunda-feira e na terça de Carnaval.

O dramaturgo inglês Tim Crouch induz o espectador a não ser mero espectador, mas a tomar parte no drama. (Foto: Dalton Valério)
INGLATERRA – VERSÃO BRASILEIRA. Até 10/3, sáb., dom. e fer. às 19h (apresentações também nos dias 11 e 12/2). Espaço expositivo do 1º andar – Sesc Belenzinho: R. Padre Adelino, 1000, metrô Belém, tel: 2076-9700. Gênero: Drama. Duração: 70 min. Classificação: 14 anos. Ingressos: R$ 6 (trabalhador do comércio ou de serviço matriculado) a R$ 24. Crédito: D/M/V. Débito: M/R/V. Onde comprar: no Sesc Belenzinho (ter. a sáb. 9h/21h, dom. 9h/19h30) e nas demais unidades do Sesc. Estacionamento: R$ 6.
SP_ROCK_70_IMAGEM. Até 10/3, ter. a sex. 10h/21h; sáb., dom. e fer. 10h/18h. Espaço expositivo do 1º andar – Sesc Belenzinho