
Clara Carvalho conduz o monólogo “Uma Cama entre Lentilhas”, que faz parte dos Retratos Falantes, montagem do Grupo Tapa (Foto: Divulgação)
Assim são os monólogos Retratos Falantes, escritos pelo inglês Allan Bennett na década de 1980 e encenados pelo Grupo Tapa desde 2008, que reestreiam este mês durante a tradicional mostra de verão da companhia. Três textos se mantêm: “A Sua Grande Chance”, originalmente interpretado por Chris Couto e agora também por Barbara Paz; “Uma Cama entre Lentilhas”, com Clara Carvalho, e “Fritas no Açúcar”, com Brian Penido. A novidade é o monólogo “Brincando com Sanduíche”, feito com maestria por Zécarlos Machado, que estreia nacionalmente.
Todos os textos são perpassados por uma fina melancolia e marcados por um tom irônico, ora ácido, ora quase próximo da autocomiseração. É delicioso partilhar dos pequenos segredos de Susan (Clara), a esposa do reverendo, que não crê em Deus, é alcoólatra e faz amizade com um jovem indiano, Ramesh Ramesh, que acaba lhe despertando sentimentos novos e excitantes. Ou acompanhar as peripécias ao mesmo tempo pretensiosas e ingênuas de Lesley (Barbara Paz ou Chris Couto), eterna candidata à atriz em busca do papel de sua vida.
A montagem privilegia o trabalho dos intérpretes, que estão excelentes em cena. Brian Penido cativa como o solteirão de meia-idade Graham, que vive com a mãe esclerosada e sente ciúme do namorado dela, um tal de mister Frank Turnbull. É impressionante como o ator explora a própria voz e o corpo a ponto de nos fazer ver não só um, mas todos os personagens que aparecem no texto. O monólogo mais duro e impactante é o escolhido por Zécarlos Machado. Impecável na precisão dos gestos, ele faz Wilfred, um funcionário de limpeza de um parque que oculta um comportamento abominável. A direção é de Eduardo Tolentino.

Brian Penido estrela o monólogo Fritas no Açúcar, em Retratos Falantes (Foto: Flavio Mores / Divulgação)