Uma mulher contra o patriarcado

A companhia Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz comemora 35 anos com o espetáculo "Medeia Vozes". (Foto: Pedro Isaias Lucas)

A companhia Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz comemora 35 anos com o espetáculo “Medeia Vozes”. (Foto: Pedro Isaias Lucas)

A companhia gaúcha Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz comemora seus 35 anos de trajetória com a estreia do espetáculo Medeia Vozes, baseado no romance homônimo da alemã Christa Wolf (1929-2011). Wolf traz uma versão mais antiga e desconhecida do mito de Medeia, bastante diferente da figura difundida pela obra de Eurípedes (480 a.C- 406 a.C.). Graças à obra do dramaturgo grego, Medeia ficou conhecida como a feiticeira que, tomada pelo orgulho e por um ciúme doentio, assassina os próprios filhos e também Glauce, a mulher de seu amante Jasão. A escritora Christa Wolf questiona essa imagem e propõe outra abordagem para o mito.

Medeia é apresentada como uma mulher que está na fronteira entre dois sistemas de valor, representados por Cólquida, sua terra natal, e por Corinto, a terra para a qual foge. Muitas das passagens da trama permanecem as mesmas, contudo as circunstâncias são outras. O sacrifício humano que faz parte da história daquelas cidades serve, na verdade, à estabilização do poder patriarcal.

No espetáculo "Medeia Vozes", os personagens apresentam seu ponto de vista sobre a história baseada no mito grego (Foto: Pedro Isaias Lucas / Divulgação)

No espetáculo “Medeia Vozes”, os personagens apresentam seu ponto de vista sobre Medeia e seus atos. (Foto: Pedro Isaias Lucas)

Medeia desafia as forças vigentes; por isso, sofre a perseguição do poder instituído. A encenação da trupe gaúcha aposta no caráter polifônico, já indicado pelo texto: além das vozes dos personagens-narradores do romance de Christa Wolf, somam- se vozes de mulheres contemporâneas, como as revolucionárias alemãs Rosa Luxemburgo e Ulrike Meinhof, a somali Waris Diriiye, a indiana Phoolan Devi e a boliviana Domitila Chungara, que ousaram enfrentar – cada qual a seu modo – a sociedade patriarcal.
Na encenação, os diversos personagens implicados na história oferecem uma variedade de pontos de vista, referências pessoais e culturais que ampliam a compreensão do contexto. Contudo, muitas vezes são conflitivos. Graças às múltiplas perspectivas, o espectador poderá identificar os interesses reais que se escondem atrás do comportamento de cada personagem e tirará suas próprias conclusões.

Medeia Vozes é resultado de uma criação coletiva. No elenco, traz os atuadores Tânia Farias, Paulo Flores, Clélio Cardoso, Marta Haas, Eugênio Barboza, Jorge Gil, Sandra Steil, Paula Carvalho, Roberto Corbo, Letícia Virtuoso, Mayura Matos, Luana da Rocha, Keter Atácia, Alex Pantera, Geison Burgedurf, Pascal Berten e Pedro Gabriel. Com esse espetáculo, a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz dá continuidade ao Projeto Raízes do Teatro, que investiga o teatro ritual e a performance contemporânea. Essa pesquisa está igualmente presente nas montagens anteriores da companhia: Antígona Ritos de Paixão e Morte (1990), Missa para Atores e Público sobre a Paixão e o Nascimento do Doutor Fausto de Acordo com o Espírito de Nosso Tempo (1994) e Aos Que Virão Depois de Nós – Kassandra In Process (2002).

MEDEIA VOZES. De 10 a 20/10, ter. a dom. 20h (não há espetáculo dia 14/10, segunda-feira). Teatro Vento Forte: Rua Brigadeiro Haroldo Veloso, 150, Chácara Itaim, tel. 3079 9529 ou 3071 3457. Gênero: performance. Duração: 210 min. Classificação: 16 anos. Grátis (os ingressos são distribuídos 30 minutos antes do início do espetáculo).